Diagnóstico tardio, dúvidas, questionamentos, incertezas. Sensações como essas são, muitas vezes, trazidas aos consultórios por adolescentes que começam a se perguntar: será que eu sou autista? No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas carregam o Transtorno de Espectro Autista (TEA), segundo o Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC).
Apesar do autismo tardio ser uma realidade, por outro lado o diagnóstico cedo também tem crescido. Hoje, as chances de um diagnóstico assertivo para crianças de até 4 anos já chega aos 50%. Contudo, o acesso à informação, compreensão e diálogo sobre o assunto tem trazido à tona aquela parcela da população que não foi diagnosticada precocemente. E é aí que entram os adolescentes.
“Muitos adolescentes que chegam ao consultório, às vezes até por iniciativa própria, trazem alguns questionamentos acerca de seus comportamentos que diferem de alguns colegas de escola ou de outras pessoas com quem convivem no cotidiano”, comenta a psicóloga Bruna Rodrigues.
A profissional ainda destaca que “costumo receber adolescentes com dificuldade que vão desde entender o sarcasmo do outro, iniciar um relacionamento amoroso até mesmo enfrentar bloqueios em interações simples no trabalho ou para desenvolver uma amizade”. Ou seja, pela percepção desses adolescentes há algo realmente diferente, que gera desconforto, e por conta do acesso à medicina optam por tentar entender melhor com a ajuda de um profissional.
Como detectar o autismo na adolescência?
Mesmo apresentando vários sintomas do TEA, para se chegar a um diagnóstico final em adolescentes entre os 12 e 18 anos são necessários exames e acompanhamento de especialistas.
Um time composto por psiquiatras, neuropsiquiatras e neuropsicopedagogos, juntamente do psicólogo do adolescente, conseguem chegar a uma resposta desde que tenham total acesso às informações de como ocorreu a infância da pessoa.
A média para um diagnóstico certo costumava necessitar de um acompanhamento de 5 anos. Contudo, quando acompanhado por psicólogos e outros especialistas, esse período de análise tem reduzido muito e os médicos conseguem chegar a um diagnóstico final dentro de 3 a 6 meses.
Quais os sintomas do autismo na adolescência?
É possível ficar atento para certos sinais que as pessoas com espectro autista na adolescência apresentam:
- Interesses restritos: adolescentes mais fechados, com interesses particulares bem específicos
- Dificuldade de comunicação: alguns adolescentes podem até se recusar a interagir com outros
- Linguagem formal: usam palavras mais difíceis e muitas vezes nem usadas na linguagem geral do dia a dia
- Problemas de entendimento: sarcasmo, piadas, tons de conversação podem não ser entendidos pelos autistas
- Dificuldade em entender linguagem não verbal: ou seja, não interpretam sinais corporais como um simples franzir de testa
- Isolamento social: quando não se sentem à vontade em situações sociais
- Comportamentos estereotipados: quando apresentam comportamentos repetitivos com o corpo. Ex: se balançam bastante ou mexem muito as mãos
- Baixa tolerância a mudanças: como a troca de escola, de turma ou de casa
A psicóloga Bruna Rordigues destaca também como geralmente esses adolescentes notam eles próprios alguns dos sintomas. “Algo que também acontece é quando amigos e familiares notam um comportamento diferente nesses adolescentes, tais como, dificuldade de realizar contato visual levantando questionamentos sobre um possível TEA”, comenta.
Ela ainda ressalta que “por outro lado, outros nos procuram, pois, apresentam os sintomas, mas não entendem o porquê se comportam de determinadas formas. Claro, que embora tenhamos que investigar todos os sintomas, nem sempre o diagnóstico é de autismo”.
Ou seja, há ainda os “novos problemas” que essa geração tem mostrado desafiadora. “Diante do cenário que temos hoje, posterior à pandemia, temos que levantar hipóteses de crianças que não desenvolveram habilidade da comunicação e interação social por conta do isolamento”, aponta Bruna.
O que existe hoje de apoio?
Em 2012, foi sancionada a Lei Berenice Piana (12.764, 2012), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Já em 2020, foi sancionada a Lei 13.977, de 2020, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea).
A vantagem do documento é assegurar aos portadores atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.
Paralelo a isso, existe um aplicativo chamado Rede Azul, que reúne indicações de locais, serviços e oportunidades amigáveis à comunidade autista em quase todos os estados brasileiro.