Defendidos por muitos gestores e educadores do Ensino Superior, os programas de graduação voltados ao conhecimento científico, desenvolvimento tecnológico, inovação e pesquisas mantêm grande distância das demandas do mercado de trabalho. Esse tipo de oferta é incompatível com a realidade de um País em desenvolvimento que necessita de profissionais aptos a tornar as empresas eficientes e competitivas. A disponibilização de uma formação complementar adequada à vida profissional é suprida hoje por grupos empresariais por meio do desenvolvimento de programas de especialização. São as chamadas universidades corporativas, que, a partir de seus departamentos de desenvolvimento de pessoal, criam e mantêm turmas contínuas.
O termo universidade se coloca aí no seu mais amplo sentido (lato sensu). Em geral, são unidades de formação que possuem instalações físicas bem equipadas, com recursos tecnológicos para oferta de programas presenciais ou a distância, com fóruns de discussão, grupos de trabalhos remotos e, principalmente, repositórios de conteúdos e cenários e estudos de casos efetivamente aplicados à realidade produtiva.
Essas iniciativas tornaram-se possíveis a partir de 1996, com ações inovadoras do Ministério da Educação na gestão do falecido Paulo Renato Souza: a reforma da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e a possibilidade de implantação das faculdades de tecnologia. Estas vinham ofertar uma modalidade de graduação abandonada nos anos 1970, mais específica e voltada ao mercado de trabalho.
Um novo estímulo a esse modelo surge, novamente, pelas mãos do MEC, com a Portaria Normativa 11, de 20 de junho de 2017, que amplia significativamente a possibilidade de oferta de cursos de graduação a distância. Dessa forma, diante da falta de recursos públicos, a medida surge como uma retomada da Meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê a elevação da taxa bruta de matrícula na Educação Superior para 50%, e a taxa líquida, em 33% da população de 18 a 24 anos. Além disso, traz em seu bojo a ênfase no ensino voltado ao mercado de trabalho, particularmente ao possibilitar que unidades produtivas – ou seja, empresas – abriguem polos EaD.
Dessa forma, uma escola tradicional de língua estrangeira poderá ofertar licenciatura em letras e idiomas, ou igrejas poderão dispor de bacharelados em teologia. Na área de Saúde, uma das mais importantes na formação de profissionais, já existem experiências em instituições de referência, como os cursos de enfermagem do Hospital Albert Einstein e os de tecnologia em gestão hospitalar e em radiologia da Faculdade de Educação em Ciências da Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O instituto de desenvolvimento do Grupo Fiat, Isvor, com sede em Betim/MG, é um modelo de universidade corporativa. Atualmente, de 15% a 20% de seus alunos vêm de outras companhias, caso de Samarco, Tim, GE e Petrobras.
A Universidade Corporativa do Transporte (UCT), ligada à Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro, foi constituída para atender a duas demandas do setor: a modernização da gestão das companhias e a qualificação dos motoristas.
Dessa forma, as universidades corporativas para o Ensino Superior tornam-se ilhas de desenvolvimento de saber aplicado, o que motiva jovens e adultos afastados da educação formal a buscarem em seus programas oportunidades reais de empregabilidade. Para as empresas, servem para transmitir a seus profissionais suas filosofias e os conhecimentos e as competências necessárias para que atinjam os objetivos estratégicos, bem como para suprir as falhas produzidas pelo deficiente sistema educacional brasileiro.
Estima-se que existam mais de 300 universidades corporativas no País, além de muitos outros sistemas educacionais corporativos que, embora muito bem organizados, não recebem essa classificação.
O momento da Educação Superior brasileira evidencia a importância de ações nessa linha. Hoje, jovens e adultos formados no Ensino Médio não se interessam pelos cursos generalistas, em boa medida pela pouca ênfase na oferta de conhecimento prático. Isso se dá tanto em instituições públicas, que buscam a excelência científica sem dispor de recursos para tal, quanto em cursos ofertados pelos grandes grupos educacionais privados, que pasteurizaram e padronizaram a oferta da Educação Superior de maneira a reduzir custos, aumentar sua rentabilidade e escapar da baixa qualificação do aluno ingressante.