Em 1999, o Ministério da Saúde classificou a Síndrome de Burnout na lista de doenças relacionadas ao trabalho. No começo do ano passado, esse movimento foi repetido, porém desta vez em escala global, já que a Organização Mundial de Saúde também adicionou a enfermidade como um problema atrelado às tarefas ocupacionais. Reconhecida por se tratar de um estado de exaustão crônica, o distúrbio ocorre, principalmente, após períodos prolongados de estresse e costuma desencadear entre profissionais que lidam com altas responsabilidades e pressão.
Hoje os professores acabam sendo um exemplo bastante recorrente e vulnerável à essa patologia, principalmente devido à natureza exigente de trabalho, ao estresse de cuidar dos estudantes e à fadiga social relacionada às atividades na área educacional.
Como se as próprias exigências profissionais já não fossem o bastante, não são raros levantamentos que apontam que educadores precisam lidar com condições de trabalho problemáticas, como número elevado de estudantes, cargas de trabalho extenuantes, conflitos com alunos ou até mesmo com as famílias, que muitas vezes exigem ambiguidade de papel de educador e cuidador.
Não à toa, um estudo conduzido pela Revista Brasileira de Medicina do Trabalho com professores da rede pública indicou que 70,13% dos profissionais apresentavam sintomas de burnout. Dentre eles, 85% sentiam-se ameaçados em sala de aula, enquanto 44% cumpriam uma jornada de trabalho superior a 60 horas semanais. Além dos números alarmantes, a pesquisa constatou que o alto índice da doença entre os educadores se dá pelo medo da violência no ambiente escolar, além da jornada excessiva, os baixos salários e a falta de suporte, recursos e reconhecimento pelo seu trabalho.
A somatória de todos esses fatores acaba gerando um enorme estresse ao cotidiano desses profissionais, afetando também diretamente a sua qualidade de vida. Problemas como esgotamento mental, cansaço físico, dificuldade de concentração, insônia, além de distúrbios de memória e irritabilidade são alguns dos sintomas mais comuns do burnout. Vale dizer ainda que o esgotamento mental no caso dos educadores gera consequências importantes na própria qualidade do ensino, tornando o impacto desse problema ainda mais grave.
Outro ponto que não pode ser ignorado nesse contexto é a pandemia, que acabou trazendo novos desafios para a classe, principalmente sobre a necessidade de adaptação ao ensino remoto de maneira atropelada. Isso, sem dúvida, ampliou os níveis de estresse e ansiedade entre os professores. Mais do que isso, os docentes tiveram que lidar ainda com toda a incerteza do cenário e, é claro, com o próprio medo dele ou algum parente próximo se adoecer. Diante desse contexto, não é de se espantar o resultado apontado por uma pesquisa feita pela Nova Escola mostrando que 72% dos educadores tiveram a saúde mental afetada durante o período mais crítico do novo coronavírus.
Muito embora a síndrome do burnout não apresente uma cura específica, existe tratamento e, sobretudo, prevenção. O foco nesse sentido passa muitas vezes pela aproximação dos gestores com o objetivo de criar ferramentas e suporte para que os educadores consigam atuar em melhores condições. Atitudes simples que visem uma melhor divisão de tarefas, a fim de evitar o acúmulo de funções e preservar a jornada de trabalho, além do reconhecimento profissional já são passos importantes para assegurar o aumento da motivação e bem-estar emocional dos professores e, assim, evitar os sintomas mais comuns da doença.
O burnout é uma questão séria que deve ser mitigada com afinco pelos gestores escolares. Afinal, o problema afeta tanto a saúde física e mental dos profissionais envolvidos, quanto pontos ligados ao ambiente educacional, como a qualidade do ensino e a retenção de educadores. Por isso, é importante que as instituições reconheçam esses sinais de esgotamento e busquem ferramentas que os ajudem a lidar com o estresse e a prática do autocuidado. Afinal, zelar por quem será o responsável pela educação de nossas crianças e jovens, é cuidar do futuro do país.