A modalidade de trabalho home office, que foi utilizada de forma maciça pelas empresas desde 2020 no contexto pandêmico, aprofundou uma dificuldade que costuma acompanhar todos aqueles que trabalham em escritório: a falta de foco que leva à procrastinação. Se no ambiente de trabalho formal, em que há um controle maior em relação às ações dos funcionários, já é um desafio resistir às tentações que levam a adiar as tarefas mais importantes do dia constantemente, em casa, com bem mais possibilidades de descontração, a missão de se tornar mais produtivo se torna quase impossível.
Segundo a consultora organizacional, coach executiva, professora de MBAs de Gestão Estratégica de Pessoas e Liderança da FGV/SP, e autora do livro “O Poder dos Times AAA”, Caroline Marcon, neste cenário, é comum que os profissionais busquem técnicas de gestão de tempo para garantir autodisciplina e produtividade. Uma das estratégias mais conhecidas para gerir o tempo de modo mais eficiente é a Técnica Pomodoro. Nela, uma pessoa executa uma atividade com foco total em um período curto de tempo, de aproximadamente 30 minutos, e na sequência faz um pequeno intervalo para descanso da mente. “Apesar de ajudarem, técnicas como esta, em geral, apresentam um efeito limitado”, afirma Caroline.
A explicação para a ineficácia de tais estratégias podem estar no resultado de pesquisas recentes que revelam que a procrastinação está mais relacionada com a gestão das emoções do que com a gestão do tempo. “As atividades que colocamos de lado geram alguma emoção negativa: podem ser chatas, difíceis ou despertam em nós o terrível medo do fracasso”, comenta a coach executiva. A forma encontrada pelas pessoas para evitar essas emoções é recorrer aos pequenos prazeres hedonistas, que nos tempos atuais, podem ser: navegar à deriva nas redes sociais, “maratonar” séries no Netflix ou até mesmo “assaltar’ a geladeira.
Conforme Caroline, a situação piora ainda mais de figura quando se percebe que estes pequenos prazeres, em longo prazo, são bastante nocivos. “Ainda que proporcione melhoria instantânea no humor, a procrastinação, por comprometer objetivos mais arrojados, tende a desencadear ansiedade e culpa; o início do estresse”, destaca. Para corroborar sua afirmação, a coach executiva cita estudo publicado pela pesquisadora canadense Fuschia Sirois, no Journal of Behavioral Medicine, que mostrou que a procrastinação crônica pode acarretar, não apenas doenças mentais, como ansiedade e depressão, mas também doenças físicas, como baixa da imunidade e problemas cardiovasculares.
Desse modo, quando uma tarefa considerada prioritária é deixada em segundo plano, as pessoas estão, de fato, afastando-se de um sentimento que fazem mal a elas. Assim, é preciso lidar com estas emoções, mais do que com uma aparente inépcia em gerenciar bem o tempo, para manter o foco nas atividades laborais e melhorar a produtividade.
Uma boa maneira de sair dessa armadilha, segundo a consultora organizacional, é fortalecer a agilidade emocional, entendida como a capacidade de tolerar sentimentos e pensamentos desconfortáveis e permanecer no momento presente, priorizando escolhas que ajudam a alcançar o que mais se almeja na vida.
E para exercitar e tonificar essa agilidade emocional existem muitas ferramentas. A psicoterapia é uma delas, segundo a coach executiva. “Mais especificamente a psicologia cognitivo comportamental tem se destacado nas abordagens de tratamento que alertam para a necessidade de aumentar a agilidade emocional”, ressalta. Outro modo, de acordo com Caroline, é através da prática regular da meditação, que atua como um verdadeiro detox mental, restaurando a energia e a clareza dos objetivos.
Além do auxílio de práticas psicoterapêuticas e meditativas, a consultora organizacional recomenda que as pessoas comecem a adquirir a autoconsciência de suas fragilidades. “Preste atenção nas próprias emoções e quando sentir vontade de procrastinar, pergunte-se qual é a coisa mais simples que é preciso fazer para atingir o objetivo almejado começando agora”, diz. Conforme Caroline, o objetivo é mover a mente dos pensamentos desconfortáveis para ações práticas e simples.
Caroline destaca também a importância de agir, mesmo em pequena escala, a fim de driblar os sentimentos negativos associados a tarefas inerentes ao trabalho. “O importante é começar”, diz. Além disso, segundo a consultora organizacional, é necessário ter constância na prática, realizando as atividades laborais consideradas “chatas” um dia de cada vez, até que elas se tornem habituais.