A disciplina educação financeira dentro da grade curricular das escolas tem sido muito discutida e implementada em diferentes instituições de ensino pelo país. Desde 2021, o governo federal lançou um programa que tem como o objetivo contribuir para o desenvolvimento de cultura de planejamento, prevenção, poupança, investimento e consumo consciente e vem capacitando professores de todo Brasil para distribuir o conhecimento aos estudantes de distintas faixas etárias. O foco é, principalmente, fazer com que a sociedade melhore a compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros – chegando até as classes de renda mais baixas.
Uma forma de tentar reduzir a inadimplência que, de acordo com o último levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), atinge 78% das famílias brasileiras.
Na visão da mentora financeira Silvia Machado, a proposta de expandir conhecimentos sobre questões que envolvem finanças é válida, mas conhecer o real valor do dinheiro tem de partir de dentro de casa, com a rotina da família e o orçamento familiar. A disciplina de educação financeira é complemento do que se deve aprender com os pais.
A orientação vai além, segundo ela, dos conceitos, de conhecer a fundo formas de investimentos e planejamento, que afinal, muitos adultos também não praticam.
“Uso aqui a expressão popular: cada um sabe onde o calo aperta. Então, antes das crianças e adolescentes entenderem sobre investimentos, quais são os mais rentáveis, sobre taxa de juros é preciso ter a consciência dos gastos que podem ser feitos de acordo com a renda familiar, do quanto o pai ou a mãe trabalhou, lutou para conquistar aquele dinheiro e, não simplesmente achar que ele chega até nós facilmente”, afirma.
Ações simples podem auxiliar neste ensinamento, segundo a mentora. “Conversar sobre dinheiro é fundamental. Impor limites. Mostrar a eles como recebem. Que o dinheiro não cai do céu e que antes de mais nada, é preciso gastar com o necessário – com as despesas da casa, alimentação, transporte”.
Outro ponto fundamental é estabelecer objetivos para o dinheiro e aprender a economizar. “Mostrar para as crianças e jovens como definir uma meta com o dinheiro que recebem. Fazê-los economizarem e gerirem este dinheiro para obter aquilo que planejam”.
“Coisas cotidianas que fazemos em casa, como pesquisar preços dos produtos no supermercado podem ser exemplos para os filhos. Incentivar a pesquisa de preço daquele tênis que quer tanto comprar ou os custos que terá para ir ao cinema”, exemplifica.
Não esconder a situação financeira da família também é importante. “A criança e adolescente precisam entender como está a situação financeira da família. Se está mais confortável ou não. Sempre queremos dar tudo o que nossos filhos nos pedem, mas não é sempre também que é possível e nem é saudável. Por isso, conhecer mais sobre a renda familiar os fazem entender quando podem ou não ganhar aquilo que querem”.
Ser recompensado por fazer determinadas tarefas. “Nós adultos para recebermos o nosso dinheiro temos de trabalhar, certo? Então, por que não demonstrar aos jovens que eles serão recompensados caso façam determinadas tarefas? Não falo daquelas que já são obrigação dentro do lar. Como ajudar na rotina da casa ou seus deveres escolares. Falo de outros exemplos como regar as plantas, ajudar o irmão com alguma atividade, enfim, vai da criatividade e da necessidade de cada família. Mas ao passo que ele recebe uma tarefa, cumpre e é recompensado, vai entender melhor o valor do dinheiro”, afirma.