Mãe de quatro filhos, a educadora indígena venezuelana Daisy Pérez é a personificação da sabedoria popular que diz sempre caber mais um em coração de mãe. Em Manaus (AM), ela buscou oportunidades e sensibilizou a comunidade e as escolas para matricular crianças Warao na rede pública de ensino, oferecendo a elas novos caminhos para um futuro digno.
Hoje a professora é referência para a comunidade Warao da cidade, ajudando a população indígena refugiada e migrante a acessar políticas públicas de educação e saúde. Mas até que conseguisse apoiar essas pessoas, Daisy teve que enfrentar desafios pessoais como mãe recém-chegada ao Brasil, e buscar recursos para reunir e garantir o sustento de sua família.
“Fui trazendo meus filhos, um a um, à medida que ia conseguindo dinheiro, até conseguir reunir de novo toda a minha família. Era o que eu mais queria”, relata a educadora, compartilhando seus aprendizados com outras famílias que enfrentam a mesma situação.
Por onde passou, incluindo as cidades de Pacaraima (RR), Boa Vista (RR) e Manaus (AM), Daisy empreendeu todo seu conhecimento para atuar com crianças refugiadas e migrantes em abrigos e outros espaços de apoio, contribuindo com o fortalecimento do processo de ensino e aprendizagem locais.
Durante essa experiência, ela identificou prioridades para a integração das crianças como, por exemplo, o idioma e informações sobre como acessar a rede pública de educação no Brasil.
Foi então que partiu à procura de instituições que pudessem ajudá-la a potencializar esse processo, e garantir que os jovens estudantes ingressassem nas escolas de Manaus, onde mora há quatro anos.
“Eu conheço as mães de todas as crianças e tenho familiaridade com elas, o que me ajuda a identificar as necessidades das famílias e buscar apoio. Como mãe, eu senti que precisava fazer algo para ajudar outras Warao que precisavam de ajuda”, destaca a educadora.
Daisy conseguiu apoio do Instituto Mana, parceiro da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), para organizar a documentação e endereçar as diversas necessidades das famílias junto às escolas locais, e conseguiu mobilizar a comunidade Warao para matricular 18 crianças desta etnia na rede pública.
“Mesmo para uma mãe que é educadora, o processo de ensinar é sempre um desafio, imagina para outras mães que não tiveram acesso a esse conhecimento, e estão em deslocamento… Por isso a inspiração de fazer com que outras mães consigam ter os filhos na escola, que possam ter essa chance”, relata Daisy.
Com seu trabalho dedicado e empatia, Daisy fez a diferença na vida das crianças, mas seu impacto já se estende para além disso.
Sua história serviu de inspiração para a própria filha, Deisy Perez, que hoje atua voluntariamente como Promotora Comunitária em um projeto desenvolvido pela Cáritas Arquidiocesana de Manaus em parceria com o ACNUR. A iniciativa apoia pessoas refugiadas em Manaus a acessarem serviços na região. Com o conhecimento e solidariedade sendo transmitido de geração em geração, a filha tem seguido os passos da mãe e contribuído para o desenvolvimento de ações de inclusão junto à população Warao.
Histórias como a de Daisy mostram a importância do envolvimento da comunidade e do trabalho coordenado das instituições de apoio aos refugiados e migrantes. Esta ação, implementada pelo Instituto Mana, é cofinanciada pela Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária Europeias – ECHO, que no Brasil contribui para que o ACNUR e parceiros sigam apoiando pessoas refugiadas, inclusive indígenas, a acessarem proteção e direitos como documentação, saúde e educação.
“Buscamos acompanhar de perto as demandas das comunidades. O envolvimento das pessoas refugiadas nesse processo é o que faz a diferença, como o impacto que Daisy trouxe para a vida dessas crianças”, explica Geisy Rodríguez, do Instituto Mana.
Essas ações de fomento a educação com integração e respeito aos processos culturais desta etnia são de fundamental importância para assegurar direitos no Brasil, explica a oficial assistente de campo do ACNUR e Manaus, Juliana Serra.
“Mais de sete mil pessoas da etnia Warao desembarcaram no Brasil desde o início da emergência da Venezuela. Acreditamos que ações como essa que visam fortalecer o acesso aos serviços e direitos e valorizar os saberes e processos tradicionais de pessoas indígenas refugiadas é chave para a integração dessas famílias”.
Os trabalhos do ACNUR e de seus parceiros em promover a inclusão e integração de comunidades indígenas refugiadas e migrantes no Brasil dialogam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, em especial com a ODS #4 para garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.