Empreender não é um processo fácil, principalmente por não existir uma “receita de bolo” ou uma rota 100% definida. É preciso arriscar e enfrentar os milhares de desafios ao longo dessa trajetória. Contudo, mesmo diante dos obstáculos, cada vez mais mulheres decidem que é a hora de abrir o próprio negócio.
“Empreender não é algo simples e os primeiros passos podem ser intimidadores para a grande maioria das pessoas, principalmente das mulheres. O acúmulo de papeis na empresa e a solidão da liderança tornam o dia a dia ainda mais difíceis”, comenta Daniela Graicar, fundadora do Movimento Aladas.
Felizmente, mesmo com todos os desafios, cada vez menos as mulheres pensam em desistir, pois estão preparadas em relação às suas habilidades emocionais. Entre as justificativas para se manter firme na decisão de seguir empreendendo, de acordo com a pesquisa “O Voo Delas” feita pelo Sebrae-SP em parceria com o Movimento Aladas, estão o sonho (43%), o que já construíram até ali (34%) e a necessidade financeira (31%).
“As mulheres estão criando coragem para pivotar suas carreiras, aprendendo a dizer ‘não’ e a gerir seus negócios com segurança e leveza”, aponta a fundadora do Aladas. Da captação de recursos à necessidade de delegar tarefas, a especialista comenta quais são as sete principais dificuldades encontradas na rota da empreendedora:
1) Captar recursos
As mulheres ainda enfrentam mais obstáculos na hora de captar recursos para os seus negócios. “Elas são as mais adimplentes e mesmo assim encontram dificuldade de conseguir financiamento bancário. Se conseguem, acabam aceitando juros mais elevados (segundo o BMI, 3,5% a mais) pela dificuldade de negociar a condição oferecida”, analisa.
Quanto à própria experiência, Daniela comenta sobre a importância de entender como o processo funciona. “O fluxo de caixa foi um problema que enfrentei logo no começo. Quando fazemos a conta ‘vou cobrar X e gastar Y’ e essa diferença é positiva, a gente acha que está tudo bem, mas isso não é real. Eu tinha 19 anos quando abri minha primeira agência de comunicação e não sabia a importância do fluxo e a quantidade de empresas que quebram no Brasil por falta de caixa. Apesar de ser uma matemática básica, nem sempre a colocamos em uma linha de temporalidade”, explica.
2) Manter a vida pessoal e profissional juntas e cuidar de si
Culturalmente, o Brasil é um país em que os afazeres domésticos, ou seja, fazer a casa rodar, é um papel das mulheres. Mas, esse acúmulo de papéis traz ainda mais dificuldade para quem empreende, pois a ele, somamos as novas responsabilidades no negócio: gerir pessoas, cuidar do financeiro, vender, fazer contratos…
Por isso, Daniela reforça a importância da distribuição de tarefas. “Meus filhos entendem bem que tenho uma empresa, mas ao mesmo tempo que isso dá orgulho para eles, também traz uma série de responsabilidades para me ajudarem e apoiarem em tudo. Meu marido também sempre divide as tarefas de casa comigo. Esse trabalho em equipe precisa acontecer. Não é sobre ajudar e sim fazermos juntos”.
Além disso, a fundadora do Aladas comenta o quão necessário é cuidar de si mesma durante esse processo: “Nós somos as pilotas desse desafio, desse negócio.
Precisamos cuidar de nós mesmas. Se não abrimos um tempo na agenda, não conseguimos chegar longe. Temos muito essa coisa de sermos mártires, mas quantos dias conseguimos trabalhar seguidamente e acreditar que isso vai ser bom para o negócio? A rotina exaustiva não se sustenta”, aconselha.
3) Saber dizer “não”
Graicar lembra que a dificuldade em dizer “não” é real, pois tanto empreendedoras que estão começando, como grandes líderes, muitas vezes tentam agradar a todos. “Isso acaba dificultando o foco, porque passamos a assumir um monte de coisas, mas e quando olhamos a agenda no fim do dia, o que fizemos foi apagar uma série de incêndios pequenos sem de fato construir algo relevante”, explica. Por isso a dica é: saber dizer “não” abre um tempo para você e para suas prioridades. É importante para o negócio, ainda que alguns não te compreendam.
4) Aceitar críticas
Quando criamos um negócio, produto ou serviço, somos apaixonados por ele, mas quando as críticas surgem, devemos saber lidar com elas. “Receber críticas é algo normal e precisamos entender que não somos unânimes”, aponta.
Durante sua jornada, Daniela Graicar conta que, no começo, as críticas caíram sobre ela de maneira muito dura: “Era um cliente insatisfeito, alguém que ía até as redes sociais e dizia que aquilo era ruim, ou ainda uma pessoa dentro da equipe que falava ‘estou indo embora porque seu modelo de gestão não é bom’. Aquilo me feria, porque eu tinha uma necessidade de aceitação muito grande. Fui aprendendo que é importante lidar com essas críticas e compreender que ninguém agrada a todos. Quanto mais a gente cresce, maior o sinal de que entregamos algo de valor aos clientes e maior, também, a possibilidade de desagradar às pessoas. Ser criticada é do jogo!”.
5) Saber negociar
Outra dificuldade apontada pela fundadora do Movimento Aladas é justamente não saber cobrar o quanto, de fato, valemos. “É fundamental cobrar um valor respeitoso pelo nosso trabalho. As pessoas costumam pedir muito de graça, pechincham, querem desconto, permuta. Demorei anos pra entender que permuta em restaurantes ou em produtos não paga a minha conta de luz ou os funcionários. Precisamos ser firmes para garantir que estamos cobrando um valor justo, porque saber negociar por você e se valorizar é muito importante”. Mas qual o valor justo? Uma boa pesquisa de mercado e refletir sobre quanto você investiu pra adquirir esse conhecimento podem nortear as empreendedoras. “lembre que não te pagam somente pelo tempo que você leva pra fazer um serviço, mas pelos anos de estudo que você dedicou pra aprender a fazer bem o que você faz. Não existe tabela de preços, existe o que você determina que vale e o quanto alguém está disposto a desembolsar”.
6) Saber delegar (e não delargar!)
“O negócio não pode ser do tamanho da sua agenda. Ele precisa ser do tamanho do seu sonho”, aponta Daniela Graicar. Por isso, ela enfatiza que é fundamental aprimorar a habilidade de delegar tarefas, justamente para suprir essa necessidade, mas devemos nos atentar quanto ao ato de delargar.
“Às vezes a gente acha que ninguém vai saber fazer o que a gente faz. Mas isso limita demais o crescimento e até põe em risco a existência da empresa. Centralizar e supervalorizar você mesma. Buscar bons talentos e confiar na sua entrega é o segredo para crescer”, comenta.
“Nem centralizar e nem delargar, porque despejar as tarefas sem explicar suas expectativas e ensinar o seu jeito de fazer pode ser um perigo para o negócio. O caminho do meio é uma bela escolha para dar autonomia e reter talentos”.
7) Não desistir
Daniela Graicar comenta que esse é o desafio mais difícil de todos, pois tende a ser uma vontade quase diária para as empreendedoras, seja para as que ainda estão começando ou as experientes em seus negócios.
“Eu entrevistei dezenas de mulheres e perguntei: ‘você já pensou em desistir?’. E todas responderam que ‘sim, quase todos os dias’. Quando ouvimos isso, sentimos um conforto de que é difícil para todo mundo e que pensar em desistir faz parte do processo, mas desistir, de fato, não”, explica.
E para quem tem recorrentemente esse pensamento, Daniela Graicar deixa um conselho de ouro: “Sempre se lembre do porquê começou. Você deu o primeiro passo por alguma razão que deve fazer sentido até hoje e é ela que recarrega nossa energia pra seguir adiante. Eu guardo os e-mails de agradecimento e de elogios numa pasta de arquivos pra alimentar minha alma toda vez que alguém me faz questionar minha vocação empreendedora”, finaliza.