A aprendizagem é um processo complexo e multifacetado, e uma de suas facetas, talvez a maior delas, é a interação entre cérebro e ambiente. Em outras palavras, o ambiente influencia a maneira como o cérebro processa e armazena informações. Logo, essa relação é fundamental para a formação das memórias e construção do conhecimento. Mas para definirmos quais são os fatores que afetam a nossa aprendizagem, é importante entendermos como esses processos funcionam no corpo humano.
Estímulos sensoriais, contexto emocional, nível de desafio, estrutura, organização e interação social são apenas algumas formas que esse ambiente se apresenta. Quando vivenciamos experiências e interagimos com o ambiente, o cérebro cria engramas, que são conjuntos específicos de neurônios que armazenam informações e experiências. Esses engramas são formados a partir das conexões sinápticas entre os neurônios, fortalecidos através da repetição e do reforço dessas experiências, e serão sempre ativados quando aquela determinada experiência ser revisitada de alguma forma.
Assim, podemos observar que as técnicas de aprendizagem funcionam justamente modulando e criando um ambiente adequado para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e a formação de memórias duradouras. Porém, antes de aplicarmos alguma técnica, precisamos entender que existem fatores que impactam diretamente no grau de aprendizagem e, sem eles, dificilmente uma técnica terá resultados consideravelmente positivos.
Foco atencional: é um componente vital na criação de memórias, pois permite que o cérebro se concentre em informações específicas e pertinentes, ignorando outras distrações. Dessa forma, o cérebro pode processar e armazenar informações de forma mais eficaz, concentrando-se em um determinado estímulo. A falta de foco atencional reduz drasticamente a quantidade de informações que podem ser armazenadas e posteriormente recuperadas.
Motivação: como ela afeta a quantidade de trabalho e energia gastos no processamento e armazenamento de informações é outro fator importante na formação da memória. Pessoas motivadas estão mais dispostas a participar ativamente do aprendizado, o que promove o desenvolvimento de conexões cerebrais mais fortes. A motivação também contribui para a consolidação da memória, pois os eventos emocionalmente carregados ou motivadores têm maior probabilidade de serem retidos ao longo do tempo, muito por conta do neurotransmissor dopamina, que tem a sua liberação realizada previamente a eventos motivadores e satisfatórios, transformando aquela experiência em algo a ser recordado pelo cérebro.
Grau de alerta: o nível de alerta de uma pessoa afeta o quão bem ela pode receber e lembrar as novas informações. Estar acordado e atento maximiza a capacidade de processamento de informações e criação de memória. Por outro lado, a capacidade do cérebro focar e processar informações pode ser comprometida pela exaustão ou sonolência, o que dificulta o estabelecimento de memórias. Para que o cérebro funcione da melhor forma, é preciso manter um nível de alerta suficiente para que o cérebro entenda que aquilo é, de fato, importante.
Sono: é essencial para a consolidação da memória, pois é quando o cérebro analisa e armazena as informações que vêm processando ao longo do dia. O cérebro passa por ciclos de atividade quando dormimos, permitindo-nos examinar e fortalecer as conexões sinápticas feitas durante o aprendizado. Por isso, a falta de sono pode ter consequências negativas duradouras no desenvolvimento da memória, afetando a capacidade de retenção e recuperação de informações de uma pessoa, além de levar à atrofia do hipocampo, região neuronal essencial para a formação da memória.
É importante mencionar que, para uma aprendizagem eficaz, é fundamental reforçar um ambiente propício e engajador que estimule a atenção, a motivação e a curiosidade. Afinal, isso facilita a formação de engramas e, consequentemente, a consolidação das memórias. Por isso, entendo que o processo de formação de memória é abrangente e enfatizo que pode ser potencializado a partir de mudanças habituais cotidianas facilmente empregadas, para posteriormente, serem potencializadas com técnicas de estudos e aprendizagens específicas.