“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Famosa, a máxima parece ser muito real quando o assunto é educação financeira. Uma pesquisa da Serasa/Opinion Box aponta que, embora 85% dos pais ensinem aos filhos como é importante saber lidar com o dinheiro, 67% deles admitem que já tiveram o nome sujo e 66%, que já deixaram contas em atraso.
Não é de hoje que a ciência sabe, por meio de inúmeros estudos, que as crianças aprendem muito por meio do exemplo e da prática dos conhecimentos que são passados a elas. O coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional, Fernando Vargas, especialista em educação financeira, afirma que com o dinheiro não é diferente. “A educação financeira é uma prática social para o desenvolvimento do ser humano e não se restringe apenas à escola. É clara a dificuldade que os pais têm em colocar isso em prática, o que é fundamental para que os filhos aprendam”, diz.
Para ele, esse tipo de comportamento tem raízes mais profundas que apenas a falta de conhecimento ou responsabilidade. O especialista lembra, por exemplo, que boa parte da atual geração de pais e mães cresceu nos anos de 1970 e 1980, época de instabilidade econômica no Brasil. “Desde a Independência do Brasil, em 1822, tivemos nove moedas diferentes. Essa geração vem de um contexto de hiperinflação e de moedas que se desvalorizavam e eram trocadas de tempos em tempos. Isso, em muitos casos, não permitiu que se desenvolvesse o pensamento de um projeto de vida de curto, médio e longo prazo”, explica. Depois de passarem para a vida adulta, essas pessoas também precisam aprender a lidar com as próprias finanças, o que nem sempre é simples.
Escola e internet são importantes, diz estudo
Para 68% dos entrevistados na pesquisa, a escola é indispensável para passar informações sobre educação financeira para as crianças. 65% deles também acreditam que a internet tem importância nesse processo. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) institui a educação financeira como um dos conteúdos que devem ser trabalhados de forma transversal pelas escolas brasileiras. Isso significa que todos os componentes curriculares precisam, de alguma forma, abordar conceitos e práticas relacionados à educação financeira. No entanto, Vargas ressalta que esse papel não deve ser apenas da escola. “É importante que esse conhecimento esteja na escola, porque ela é o maior ambiente social que as crianças frequentam. Mas os pais e familiares também precisam falar sobre isso em casa, mostrar como se faz no dia a dia e, principalmente, ser um bom exemplo”, ressalta.
No que diz respeito à internet, o especialista é taxativo: não adianta ter acesso a conteúdos de educação financeira se não aplicar o que aprende com eles. “É claro que é positivo termos influenciadores, youtubers e sites falando sobre isso. Quanto mais conversarmos sobre esse assunto, melhor. Mas é preciso começar a trazer esse conhecimento para a vida cotidiana”, pontua.
Assim, segundo o especialista, a formação de uma geração mais consciente e equilibrada, no que diz respeito ao próprio dinheiro e à sociedade como um todo, deve ser uma combinação entre o que é ensinado pelos professores e o que é vivenciado em casa, na convivência com a família.