O mundo do trabalho, a exemplo do que acontece em todas as dimensões da vida, está em rápida e contínua mudança. As profissões, como as conhecemos, estão passando por um amplo processo de metamorfose. Algumas delas, inclusive, estão morrendo, outras em processo terminal. Enquanto isso, vão surgindo novas especialidades, fazendo desabrochar profissões até então inexistentes.
Nessa perspectiva, em vários segmentos, indivíduos estão sendo chamados a contribuir com suas competências para lidar com novas situações e responder a novos problemas. Em algumas dessas atividades, o diploma de Ensino Superior já não é mais uma necessidade, cedendo espaço para as certificações. Em decorrência, as faculdades precisam fazer mais para garantir que suas ofertas sejam solicitadas, tanto por estudantes quanto por empregadores.
O título na primeira página da seção de negócios no The Boston Globe, de 9 de novembro de 2015, estampou: “O Estado enfrenta falta de mão de obra, o sistema de ensino para o emprego está caindo”. Se em 2015 já era uma realidade, o que dizer dos dias atuais?
Imagine você: como poderia haver escassez de mão de obra em Boston, uma área metropolitana conhecida por sua concentração de faculdades e universidades, com tradição de fornecer força de trabalho treinada para as indústrias da região?
Estamos falando de uma área que abrigava, em 2009, segundo dados do Bureau of Labor Statistics, mais de 80 faculdades privadas e universidades, que empregavam 68.600 pessoas e que atraíam mais de 360 mil estudantes de todo o mundo.
A resposta pode ser encontrada em um estudo mais recente, lançado pela Northeastern University. Segundo o documento, a maioria das ofertas de emprego na cidade de Massachusetts, prevista para os próximos sete anos, não exigirá diploma de faculdade. E mais: o sistema de educação no estado não conseguirá treinar pessoas em número suficiente para preencher as vagas de emprego esperadas.
Massachusetts não é a única em suas necessidades de força de trabalho qualificada. Essa é também uma realidade que começa a fazer parte do nosso horizonte, aqui no Brasil. A globalização impacta os diversos segmentos de maneira planetária, o que leva a um alinhamento das tendências, em qualquer ponto do planeta.
A grande questão é que está cada vez mais difícil as faculdades acompanharem a demanda por força de trabalho qualificada, o que tem levado muitas empresas a criar suas universidades corporativas ou qualificar seus empregados em cursos específicos, ofertados por instituições certificadoras. Essa é uma característica de determinados setores e certas áreas-chave. Nelas, o treinamento e o desenvolvimento de habilidades são muito específicos, e muitas vezes não exigem, propriamente, diploma de bacharelado.
Esse quadro, portanto, deixa claro: há uma mensagem significativa sendo entregue aqui. Tudo indica haver certa desconexão entre o Ensino Superior e a indústria, ou o mercado de trabalho, quando se trata de identificar rapidamente as necessidades da economia e, a partir daí, determinar a melhor maneira de educar e formar um contingente de pessoas qualificadas. O desajuste entre a oferta e a demanda dos profissionais evoluiu nas últimas décadas, e isso pode levar à suspeita de que o Ensino Superior talvez não esteja “recebendo a mensagem”.
O fato é que há uma lição de casa a ser feita por cada uma de nossas instituições educacionais, esteja ela em que nível estiver. É preciso reconhecer a responsabilidade do sistema educacional nesse contexto, pois não se trata somente de educar os alunos, mas também de oferecer-lhes as habilidades que proporcionam flexibilidade em sua carreira. Nem todos os estudantes vão procurar, ou exigir, um diploma de nível superior para ter sucesso. Alguns podem querer certificações e licenças além do crédito acadêmico, ou em vez de um diploma.
É importante para as escolas, portanto, ampliar o horizonte e expandir a oferta de alternativas educacionais de qualidade, sendo flexíveis, mas ao mesmo tempo pragmáticas, na definição da missão de educar para o futuro. Nessa perspectiva, é preciso interagir mais com o ecossistema político, econômico e empresarial, conversando regularmente com economistas, governos e gestores de indústrias para analisar o futuro. E então, vamos bater um papo?