A educação é um dos setores que mais sofreram transformações ao longo do tempo, tanto em função do desenvolvimento tecnológico e das demandas de um mercado cada vez mais exigente como também da mudança de perfil dos estudantes e das próprias famílias. Mas será que nossas escolas estão formando crianças e jovens preparados para ingressar na vida adulta como seres humanos saudáveis, plenos e comprometidos com os valores humanísticos? Ou apenas os estamos preparando para passar no vestibular e ter uma profissão?
Esse é um questionamento de suma importância e que deve pautar as discussões entre os profissionais que atuam na educação. A alta competitividade que se instaurou nos últimos anos nos concursos vestibulares, especialmente das instituições de Ensino Superior públicas, criou um clima de disputa e de pressão tão grande entre os estudantes que muitos chegam a ter problemas de saúde e transtornos psicológicos nessa fase.
Hoje, o jovem é cobrado, e também sua família, para ser aprovado em vestibulares a qualquer custo. Passar no vestibular é quase como uma avaliação antecipada da capacidade desse jovem de ter sucesso no futuro, como adulto e como profissional. Ser reprovado ou demorar um tempo para conseguir entrar em uma universidade significa um fracasso que deixa marcas no vestibulando e na família.
E isso tudo acontece em uma fase em que o jovem já passa por grande pressão e angústia em função das dúvidas e questionamentos característicos dessa faixa etária. São muitas cobranças sobre um ser humano que, nesse momento, acumula dúvidas, incertezas e medos. Por isso é tão comum vermos jovens padecendo de depressão, ansiedade e outras doenças de fundo psíquico que causam grande sofrimento.
Não podemos perder de vista também a triste estatística que mostra o crescimento dos casos de suicídio entre jovens no Brasil. É um tema difícil, que necessariamente resvala na escola e na rotina massacrante de quem quer entrar em uma boa universidade e que, para isso, precisa fazer o impossível para dar conta de estudar e ter condições de competir em um universo onde as notas de corte dos vestibulares sobem a cada ano.
A Organização Mundial da Saúde aponta o suicídio como a segunda principal causa de morte no Brasil na faixa etária dos 15 aos 29 anos. Segundo o órgão, de 2000 a 2015, cresceu em 45% o número de casos entre pessoas com idade de 15 a 19 anos. São dados tristes, preocupantes, e que não podem ser negligenciados pela escola e pelos profissionais da área da educação.
É claro que os jovens têm que se adequar à realidade que está posta, de alta competitividade dos vestibulares. E que a escola tem que corresponder a essa demanda, a essa necessidade. Porém, é preciso ir além disso. A boa escola é aquela que oferece formação de qualidade, tanto do ponto de vista humanístico quanto do conteúdo, e que traz como consequência a aprovação no vestibular. Precisamos, neste momento, de uma reflexão séria para buscar uma mudança nessa realidade de competitividade sem limite que tomou conta dos vestibulares e que obrigou escolas e alunos a correrem atrás de objetivos cada vez mais difíceis de serem alcançados.
Acredito que é possível preparar melhor os jovens para enfrentar vestibulares concorridos e toda a pressão decorrente se dermos a eles as bases para se formarem como cidadãos e seres humanos saudáveis, pois, assim, terão muito mais facilidade de aprendizado e de aquisição de conhecimento. E os ganhos virão para todos: jovens, famílias, escola e sociedade.