A evasão é um tema bastante perturbador para os gestores educacionais, mas no Brasil ele ainda carrega poucos contornos práticos. Para iniciar a reflexão sobre o assunto, vamos esclarecer o real significado de algumas palavras que surgem nesse contexto.
Enquanto retenção é a capacidade de uma instituição reter um aluno, da admissão até a formatura, evasão é a saída de um estudante sem que tenha concluído a graduação. Já persistência é o desejo e a ação de um estudante de permanecer no Ensino Superior até a conclusão de seu curso.
A saída de um aluno da instituição requer tanto a compreensão das forças que influenciam sua persistência quanto o desenvolvimento de políticas e práticas destinadas a melhorar as taxas de retenção, com base na compreensão de tais forças. Infelizmente, a maioria das instituições não consegue traduzir o que sabem sobre retenção em forma de ações que levem a ganhos substanciais na persistência do aluno e em sua graduação.
Em países como EUA, Inglaterra, Austrália e Dinamarca, a evasão é um tema pensado de maneira ampla – do acesso ao sucesso do aluno. Por essa razão, utiliza-se o termo sucesso do estudante. Nesses países, as estratégias são desenvolvidas para apoiar os discentes, a fim de que estes permaneçam na instituição e alcancem seus objetivos.
É preciso que os gestores educacionais mudem o modelo mental e a visão tradicional da evasão e passem também a pensar no sucesso do aluno. Dessa forma, será possível compreender que a decisão de permanecer na instituição passa pelas expectativas criadas pelo aluno, pelo suporte oferecido pela instituição, pelo feedback e aprendizado e pelo envolvimento social durante toda a jornada acadêmica. A isso chamamos gestão da permanência eficaz.
Após anos de muito estudo e pesquisa, analisando os diversos modelos de evasão e de que maneira as instituições de Ensino Superior, no Brasil e em diversos países, trabalham para evitar a saída do aluno, concluí que a gestão da permanência eficaz é suportada por três pilares: a experiência do aluno, o suporte acadêmico e a atuação preditiva. Esses três pilares precisam ser trabalhados de maneira coordenada e sistêmica, como parte da estratégia de negócio da instituição, pois nenhum programa ou conjunto de estratégias desconectadas produzirá mudanças significativas.
Mas o que significam esses pilares e de que maneira as instituições podem incorporá-los em práticas?
EXPERIÊNCIA DO ALUNO
O primeiro pilar tem por objetivo promover uma experiência longitudinal com o aluno, criando o senso de pertencimento e um engajamento significativo. Em um mercado extremamente competitivo, com cada vez mais clientes exigentes e informados, proporcionar a melhor experiência possível durante toda a jornada acadêmica do aluno é essencial para evitar a evasão. Essa experiência abrange aspectos de desenvolvimento acadêmico e intelectual, integração social e até saúde emocional. Por essa razão, o foco desse pilar repousa em conhecer o aluno. Quanto mais as instituições conhecerem seus alunos, e quanto mais os alunos sentirem que estão recebendo um serviço personalizado, maior será a probabilidade de permanecerem na instituição e alcançarem o sucesso.
SUPORTE ACADÊMICO
O suporte acadêmico é um preditor do sucesso do aluno, que, por sua vez, é preditor do sucesso e da reputação da instituição. Especialmente durante os dois primeiros anos da graduação, para boa parte dos alunos, a disponibilidade de apoio acadêmico, dentro e fora da sala de aula – seja na forma de cursos básicos, seja em apoio no desenvolvimento de habilidades e competências, grupos de estudo, monitorias –, é fundamental para o processo da decisão de permanecer no curso ou na instituição, pois quanto mais aprendem, mais valor eles encontram em seu aprendizado.
Muitas dessas iniciativas de suporte acadêmico exigem dos professores uma gama de habilidades que normalmente estão ausentes de seu repertório de ensino. Por isso, o foco desse pilar repousa na área acadêmica e no desenvolvimento efetivo do corpo docente, sendo essas uma das principais ações que as instituições podem adotar para melhorar os índices de permanência e graduação.
ATUAÇÃO PREDITIVA
A visão tradicional da retenção trabalha de maneira reativa, porém, para a gestão da permanência eficaz, trabalhar de maneira proativa garante a intervenção focada e personalizada para evitar a evasão, por isso o foco desse pilar repousa em tecnologia, big data e visão analítica. A utilização de uma ferramenta de análise preditiva que utiliza modelos estatísticos e inteligência artificial para identificar, prever e promover mudanças no comportamento do aluno é essencial. Com os insights gerados pela ferramenta, os gestores podem fazer melhorias em seus processos, comunicações, ensino e aprendizagem, proporcionando uma experiência personalizada ao aluno. A atuação preditiva deve trabalhar com a identificação precoce – antes e depois da matrícula do aluno – e com a intervenção antecipada, intensiva e contínua.
Muitos são os desafios no segmento educacional no Brasil, mas, como educadores, não podemos permitir que tantas pessoas desistam de conquistar o tão sonhado título na Educação Superior. Como bem dito por Vicent Tinto, “se queremos oferecer oportunidades educacionais significativas para todos os cidadãos, permitindo que, independentemente da renda, obtenham um diploma universitário, devemos e podemos fazer mais”. Sabemos que é possível apoiar o sonho dessas pessoas e aumentar os índices de permanência e graduação. Agora é necessário o compromisso de fazê-lo.